sexta-feira, outubro 24, 2014

Despreparo Democrático

Esperava-se que as eleições de 2014 seriam uma estreia eficaz das mídias sociais no processo eleitoral, mas o que se viu foi o mal uso dessas ferramentas servindo a paixões descontroladas, ataques "ad-hominem" concorrendo para a aniquilação do debate de ideias e propostas.

Costuma-se dizer que a democracia brasileira é jovem, por exemplo, em relação à americana, que já elegia presidentes enquanto éramos uma colônia. Eu acho este argumento um pouco ingênuo ou equivocado. O que se verifica é que o brasileiro ainda torce por candidatos como se torcesse por um time de futebol, olham apenas para os nomes das pessoas que se candidatam e esquecem-se dos programas de partido que na verdade inexistem. Meses depois, sequer se lembram em quem colocaram seu voto.

Há quem defenda a intervenção da Justiça Eleitoral para coibir os excessos. Isto nunca vai resolver o problema, o que precisamos é educar a população, constantemente, mostrando que eleições não podem ser comparadas a embates futebolísticos e que não existem camisas e sim ideias e o futuro do pais em jogo. E o que deve ser discutido são exatamente as ideias não as pessoas, evidentemente, ressalvando a necessidade das fichas-limpas.

Contribui muito para isso o péssimo sistema educacional, que para piorar as coisas retirou há tempos do currículo disciplinas importantes, simplesmente, porque a associavam aos governos militares; moral, ética, cidadania e política.

Hoje alega-se que a grade curricular está muito carregada e que não suporta a inclusão de mais uma disciplina como já proposto no Congresso. Pode até ser, mas porque não revemos esta grade tornando-a compatível com a idade dos alunos excluindo por exemplo o ensino de História nos níveis mais elementares. História não é uma matéria para ser ensinada a crianças de 7 aos 9 anos, quando sequer possuem as qualidades cognitivas para entender as análises necessárias ao ensino adequado da matéria. Ensinar História baseando-se apenas em datas e nomes é um erro e com o tempo vai apenas contribuir para afastar o aluno do tema.

Temos mais 4 anos para ver se a redes sociais entram no debate político, com toda a sua relevância e sem suas mazelas, porque desta vez falharam.

quarta-feira, outubro 22, 2014

O Valor de Uma Boa Obra de Ficção


Aqueles que como eu estão sempre lendo ensaios e estudos, sejam eles científicos ou de ciências humanas como Direito, História Sociologia etc., precisam às vezes parar e dar tempo para uma boa obra de ficção.

Aquele tipo, que às vezes nos faz, graças à pesquisa apurada do autor, chegar até a pensar que os fatos tem coincidência histórica.

Na maioria ou na totalidade das vezes não tem, apenas o autor é hábil o suficiente para misturar seus personagens no meio de acontecimentos e personagens históricos de um maneira que parece tão verossímil, que nos vemos, subitamente, a procurar no Google dados sobre personagens, até sempre confirmarmos, inexoravelmente, que são fictícios.

Somerset Maugham, por exemplo, costuma escrever na primeira pessoa do singular, um estilo que dá a impressão de que que o autor está inserido na história conversando e entrevistando personagens. Segundo ele, isto dá mais verossimilidade à narrativa, de tal forma que Maugham em seus prefácios costumava alertar o autor de que ele não estava na narrativa e de que não se iludissem sobre os fatos terem acontecido a ele próprio.

Portanto, amigos, deem pausa a seus estudos com uma boa ficção de tempos em tempos. Um bom autor ensina muito sobre a natureza humana e nos faz crescer como seres humanos.

Publicado inicialmente em: Conversando Sobre História.

terça-feira, outubro 21, 2014

Gosma cinza" ('grey goo') colocada em perspectiva

Um artigo publicado em 09 de junho de 2004, na revista Nanotechnology, adverte que o medo de máquinas auto-replicantes incontroláveis, desvia a atenção de outros riscos mais graves da fabricação molecular.

O documento, "Safe Exponencial Manufacturing", publicado pelo Instituto de Física, foi escrito por Chris Phoenix , diretor de pesquisa do Centro de Nanotecnologia Responsável (CRN), e Dr. K. Eric Drexler , o teórico da nanotecnologia pioneiro e fundador do Foresight Institute. Drexler já havia advertido contra as máquinas de auto-replicação em seu livro de 1986, Engines of Creation , alertas que geraram todo o temor explorado nas telas e nos romances de ficção.

A ideia se tornou conhecida como "grey goo" (gosma cinza) e inspirou uma geração de autores de ficção científica.

Neste artigo, Phoenix e Drexler mostram que a fabricação baseada em nanotecnologia pode ser completamente segura contra a replicação fora de controle. No entanto, eles alertam que, por outras razões, o desvio de manufatura molecular ainda permanece como um perigo considerável.

O chamado "grey goo", só poderia ser produto de um processo de engenharia deliberado e difícil, e não um acidente", disse Phoenix. Muito mais grave é a possibilidade de que uma grande e conveniente escala e capacidade de produção possa ser usada para fazer armas não-replicantes incrivelmente poderosas, em quantidade sem precedentes. Isto poderia levar a uma corrida armamentista instável e a uma guerra devastadora.

"A política investigativa sobre os efeitos da nanotecnologia avançada deve considerar isso como uma preocupação primordial, e a replicação em fuga como uma questão mais distante."

Diferentemente da ideia inicial a autorreplicação não é necessária para a construção de um sistema de manufatura molecular eficiente e eficaz. Em vez de construir lotes complexos de minúsculos robôs para a fabricação de produtos, será mais prático utilizar simples braços do robô dentro de fábricas do tamanhos de computadores de mesa. Um braço robótico removido de uma tal fábrica seria tão inerte como uma lâmpada puxada da rede elétrica. A fábrica como um todo não seria mais móvel do que uma impressora de mesa e seria necessário um fornecimento de matérias-primas purificadas para construir qualquer coisa.

"Uma obsessão com imagens de ficção científica obsoletas de enxames de nanobugs replicando, tem desviado a atenção das questões reais levantadas pela revolução que virá com a nanotecnologia molecular", disse Drexler. "Temos de nos concentrar nas questões que importam e em como lidar com esses novos recursos poderosos em um mundo competitivo"

Mike Treder , Diretor Executivo da CRN, disse: "Esperamos que este artigo faça avançar a discussão sobre as implicações reais da fabricação molecular. Não há necessidade de pânico, mas existem preocupações urgentes que devem ser resolvidos antes que a tecnologia chegue."

A carta de Lampião

Em 1926 o cangaceiro Lampião enviou uma carta ao governador de Pernambuco, Júlio de Melo, sugerindo a divisão do estado em duas partes: uma ficaria com ele e a outra com o governo. Na época, o chefe de polícia Antônio Guimarães foi o responsável por levar a notícia da atitude audaciosa ao conhecimento do governador. Ainda em 1926, no dia 12 de dezembro, Júlio de Melo foi substituído no governo por Estácio Coimbra, a quem caberia tomar atitude com relação à carta de Lampião. O novo governador nomeou como chefe de polícia o jovem advogado Eurico de Sousa Leão.

Com Leão à frente da Repartição Central de Polícia, começou uma ação organizada do estado contra o cangaço. Em princípio, Leão substituiu os soldados do litoral (chamados de "pés-de-barro") por sertanejos com hábitos e resistência física semelhantes às dos cangaceiros, reorganizando o serviço policial volante. Ele levou para a polícia sertanejos da própria região, o vale do rio Pajeú, de onde os bandidos eram originários, ampliando uma política iniciada no governo anterior. A partir de então eram homens de maior resistência, acostumados a enfrentar a caatinga e suas dificuldades, que davam combate.

Os resultados dessa mudança de estratégia não demoraram a aparecer. Lampião logo teria no seu encalço homens como os nazarenos, naturais da cidade de Nazaré (hoje Carqueja - PE), que se tornariam seus piores inimigos. Além dessas medidas, Leão começou a prender e processar os coiteiros, pessoas que ajudavam a encobrir os integrantes do cangaço. A ação ajudou a quebrar a condescendência e até mesmo a cumplicidade dos poderosos chefes do interior com Lampião e seus seguidores. Por fim, promoveu convênios com os estados vizinhos para enfrentar os bandoleiros.

Leão teve como um dos principais agentes ao seu lado o militar Teófanes Ferraz Torres, com quem divide os méritos da introdução em Pernambuco da polícia científica e da moderna administração da defesa social. As medidas aplicadas provocaram a derrota de Lampião em menos de um ano e meio, conquistando também a opinião pública.

Na íntegra a Carta:

Senhor governador de Pernambuco, Suas saudações com os seus. Faço-lhe esta devido a uma proposta que desejo fazer ao senhor para evitar guerra no sertão e acabar de vez com as brigas. (...) Se o senhor estiver no acordo, devemos dividir os nossos territórios. Eu que sou capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do Sertão, fico governando esta zona de cá por inteiro, até as pontas dos trilhos em Rio Branco. E o senhor, do seu lado, governa do Rio Branco até a pancada do mar no Recife. Isso mesmo. Fica cada um no que é seu. Pois então é o que convém. Assim ficamos os dois em paz, nem o senhor manda seus macacos me emboscar, nem eu com os meninos atravessamos a extrema, cada um governando o que é seu sem haver questão. Faço esta por amor à Paz que eu tenho e para que não se diga que sou bandido, que não mereço. Aguardo a sua resposta e confio sempre.

Capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do Sertão

Fonte: livro Lampião, seu tempo, seu reinado - vol. III, de Frederico Bezerra Maciel, Editora Vozes.

Publicado Inicialmente em: Conversando Sobre História, por #AL

domingo, outubro 05, 2014

Leonor de Provença


Embora as mulheres só viessem a ser governantes na Inglaterra bem mais tarde, Leonor da Provença, se não governou oficialmente, teve forte influência nas decisões do Rei, Henrique III.

Ela exerceu forte influência sobre o marido, beneficiando parentes franceses e tentando controlar seu filho e herdeiro Eduardo I, levando à rebelião dos barões conduzida por Simão V de Montfort, VI conde de Leicester, durante a Segunda Guerra dos Barões que foi travada em entre 1264 e 1267.

O seu marido foi capturado na Batalha de Lewes, em 1264, juntamente com seu filho Eduardo e Leonor de Provença viu-se forçada a refugiar-se na corte de França junto de sua irmã a rainha Margarida de Provença.

Em 1265, Eduardo escapa se reorganiza com seus barões e lorde aliados e bate Montfort na Batalha de Eversham

Henrique III de Inglaterra, que continuava rei, mas era controlado por Montfort, recupera suas funções do trono em 1265 e Leonor volta a Inglaterra, sendo no entanto mantida à margem da política. A guerra continuará a ser travada com o filho de Montfort, Simon de Montfort.

Quando o seu marido morreu em 15 de Novembro de 1272, tentou, sem êxito recuperar o poder movendo a sua influência na corte. Não teve no entanto sucesso. O seu filho Eduardo I assume o poder e encarrega-a de educar vários dos seus netos enquanto ele e sua esposa, Leonor de Castela partem para as Cruzadas.

Alguns anos depois retira-se para a abadia de Amesbury, em Wiltshire, onde acabou por morrer em 24 de Junho de 1291 aos 68 anos de idade. Encontra-se sepultada nesta abadia.

Fonte: Marc Morris
Imagem: Supostamente Leonor da Provença - Você acredita? A vestimenta parece-me muito gata, fora dos padrões do século 12. Não quero dizer com isto nem melhor nem pior, apenas fora do padrão de beleza. Não consegui determinar a origem desta imagem. Acho que algum fã da Eleanor a produziu

Originalmente Publicado em Conversando Sobre História