quinta-feira, abril 25, 2013

Como Não Fazer História


Foi liberado recentemente um documentário intitulado " 1964 - Um Golpe contra o Brasil" dirigido por Alípio Freire, patrocinado pelo Ministério da Cultura e embora não entrando no mérito detalhado do conteúdo, vamos tecer comentários relativamente à metodologia histórica da elaboração deste documento. 

O documentário é nitidamente um trabalho de cunho político-partidário, que não se atrela a nenhum critério historiográfico e não encerra qualquer compromisso com a isenção ou com as perceptivas de ambos os lados em conflito. Apesar disto, o documentário vem recebendo enorme aprovação nas redes sociais e vem sendo promovido diretamente pelo Ministério da Cultura.

Não se quer aqui afirmar que não existiram violências de Estado, especialmente, após 1968, no período dito da ditadura militar, que precisam ser apuradas, mas é preciso acabar com o romantismo dos esquerdistas bons-moços que lutavam pela liberdade, pois caso a vitória lhes sorrisse é certo que teríamos implantada em nosso país uma ditadura de esquerda nos moldes da ditadura castrista, com cerceamento da liberdade tão ou mais duro do que o do regime militar de 64.

As diversas pessoas entrevistadas para compor o documentário são identificadas com as forças combatidas pela repressão liderada pelo governo militar que se instalou com o movimento de 1964.

Estas pessoas estão hoje principalmente alocadas em partidos políticos como o PT, PDT, PC do B e movimentos sociais de esquerda como o MST, embora existissem entre as forças  que combatiam a repressão pessoas relevantes, incluindo até o presidente da UNE na época, que teve papel relevante nos acontecimentos, estando presente no famoso comício da Central do Brasil em 1964, mas hoje como muitos opositores ao regime militar de então, estão nas fileiras de oposição ao governo. 

Elas não tem nada a dizer, ou sua condição de oposicionistas ao governo de hoje não  as credenciam para relatar os fatos de então? Teriam, se o documentário visasse o registro histórico e não a construção de uma peça de propaganda partidária.

Os que são credenciados pelo documentário para relatar os fatos são apenas os que apoiam hoje o governo, inclusive o patético PC do B, que publicou um ridículo documento de apoio à Coreia do Norte quando recentemente recrudesceu a retórica de ataques entre as Coreias e os E.U.A.

Além de suas características que não o credenciam como um documento histórico o documentário termina fazendo alusões ao que seria o Brasil, um verdadeiro mar de rosas, com todos os seus problemas de educação, moradia e saúde resolvidos, caso o Plano Trienal de Jango tivesse sido aplicado. 

Em todas essas suposições a narradora Márcia Telles pergunta: você sabia que se.....? Como se não tivessem sido organizados outros planos no Brasil e como se planejamento no Pais fosse uma ciência exata com resultados garantidos. Uma verdadeira piada, do mesmo quilate que a nota de apoio à Coreia do Norte publicada pelo PC do B.

Em suma, os acontecimentos de 1964 ainda estão muito vivos nas memórias das pessoas que ainda vivem e os presenciaram, o que faz com que as fontes disponíveis não sejam adequadas para análises históricas isentas.