terça-feira, junho 14, 2016

Anacronismos tolos

Estava lendo hoje um conto de Lima Barreto intitulado Conhecem?, escrito em 1915 e que trata de uma sua crítica à regulamentação por intermédio de fichas, que passaram naquele ano a serem exigidas aos criados (termo da época) domésticos.

Nesse conto, Lima Barreto se refere à inutilidade e tolice dessa medida, alegando:

"Os criados sempre fizeram parte da família...A obrigação do dono ou dona de casa que procura um criado, que o põe debaixo do seu teto, é saber quem ele é; o reto não passa de opressão do governo sobre humildes, para servir à comodidade burguesa. Querem fazer das nossas vidas, dos indivíduos, das almas, uma gaveta de fichas. Cada um tem que ter a sua e, para obtê-la, pagar emolumentos, vencer a ronha burocrática, lidar com funcionários arrogantes e invisíveis, como em geral, são os da polícia."

Eu gostaria de abordar esse fato cotejando com os nossos dias quando os empregados domésticos, muito justamente, tiveram seus direitos equiparados aos demais trabalhadores com o consequente aumento de custos e burocracia para os empregadores.

Lima Barreto se expressa com a mentalidade de seu tempo e não pode, anacronicamente, ser acusado de reacionário assim como Monteiro Lobato não pode, de forma imbecilizada, ser classificado como racista.