terça-feira, abril 28, 2009

Danos da Mídia Desinformada


Nos últimos dias de abril estamos sendo inundados de informações alarmantes sobre o que a mídia, em função de uma simplificação dos cientistas, está chamando de gripe suína.

No primeiro momento, é natural que associemos o perigo aos suínos, principalmente, ao vermos a preocupação das autoridades em explicar de que não existe risco no consumo de carne suína.

A pergunta é: mesmo com a informação disseminada na mídia de que não existe este risco você acha que alguém vai consumir carne suína no momento?

Claro que não e até alguns países já suspenderam importação de carne suína dos E.U.A, México e Canadá.

Mas a grande verdade é que os cientistas, apenas por simplificação, denominaram a doença causada por este vírus de gripe suína porque a proteína de superfície desse vírus é muito similar àquela dos vírus que, usualmente, atacam os suínos, mas ele é uma mutação do vírus de gripe e encampa características do vírus suíno, do aviário e do vírus humano. Ou seja, é um vírus influenza A, designado H1N1, mas contém DNA dos vírus H1N1 aviário, suíno e humano e que parece ter adquirido a capacidade de transmitir-se de pessoa para pessoa diferentemente do H1N1 originário dos suínos.

Não parece existir existe nenhum suíno infectado, só humanos, e a transmissão acontece de humanos para humanos. Dessa maneira, está sendo criado um grande equívoco na mente população em todo o planeta, fato que certamente afetará a economia do rebanho suíno mundial. A organização correspondente à OMS, relativa aos animais, já se manifestou repudiando esta nomenclatura.

Como se vê, nessa e em outras ocasiões a mídia desinformada ou precipitada em suas avaliações tem a enorme capacidade de destruir, irremediavelmente, reputações.

sexta-feira, abril 10, 2009

Lei Antifumo, Democracia e Ética


Nos dias que se sucederam à aprovação da lei antifumo pela Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo percebemos uma série de manifestações na Internet, a maioria delas saudando a lei, mas algumas condenando com argumentos verdadeiramente inacreditáveis.

Parece que o entendimento de democracia dos opositores, que com certeza são fumantes ou prepostos da indústria tabagista, percorre uma via de mão única. Clamam pela liberdade do direito de fumar aonde quer que seja e negam o direito dos não fumantes de rejeitar o fumo passivo.

Alguns exemplos destas manifestações são dignos de referência pelo caráter arbitrário e ridículo de suas argumentações. Uma delas, no site oficial do PCB, Vermelho Online, afirma em uma de suas matérias que a “lei antifumo é palanque eleitoral” e numa entrevista com Marcus Vinicius Rosa, diretor jurídico da Abresi, que junto com a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) vai liderar as ações contrárias à lei, apresenta argumentações falaciosas alegando queda futura de faturamento do setor e desemprego se a lei for aplicada.

Nada mais falso.

Pesquisas em cidades como Dublin e Nova York mostram exatamente o contrário, pois não foi registrada queda do índice de emprego que pudesse ser associada à Lei e por outro lado foram registradas significantes reduções da poluição do ar e de incidência de doenças respiratórias e cardiovasculares em empregados do setor.

Falar em contramão das tendências como alguns opositores alegam parece brincadeira de mau gosto, haja vista as ações tomadas pelas cidades citadas acima e muitas outras no mundo.

Pior ainda é aliar a questão à sucessão presidencial, seria até um tiro no pé, pois infelizmente ainda é grande o número de fumantes. Esta argumentação só é explicável pelo desespero de quem prevê que no futuro próximo apenas poderá fumar em casa ou nas casas de amigos fumantes. É o momento de abandonar esta idéia, ela sim, está na contramão das tendências.

Alguns outros comentários demonstram o impressionante senso de democracia às avessas professado pelos fumantes. Atitude que só reforça a personalidade inconveniente, mal educada e antiética da maioria deles.

No afã de clamar por direitos se esquecem daqueles que são os mais prejudicados, os empregados de bares e restaurantes, aos quais, sem direito de escolha, apenas lhes resta fazer parte das estatísticas de portadores de doenças cardíacas e respiratórias.

Estes empregados dos estabelecimentos comerciais são obrigados a conviver em um ambiente poluído pelo menos 8 horas por dia sem escolha. Pesquisas demonstram sem sombra de dúvidas o elevado índice de doenças do trato respiratório nestas pessoas. O Ministério da Saúde demonstra com pesquisas, que "os fumantes passivos têm um risco 23% maior de desenvolver doença cardiovascular, 30% mais chances de ter câncer de pulmão e 24% a mais de chances de sofrer um infarto de miocárdio. Esse não-fumante ainda teria maior propensão a desenvolver asma, ter redução da capacidade respiratória e maior risco de arteriosclerose."

O que os fumantes sugeririam a eles: Mudem de emprego?

Saudamos com entusiasmo a nova lei paulista e torcemos para que ela se alastre como um vírus benigno por todos os estados da federação.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Buracos Negros do LHC podem sobreviver por minutos

January 23rd, 2009 | by KFC |
KurzweilAI.net



Não existe, definitivamente, nenhuma possibilidade do LHC destruir o planeta quando ele for ligado algum dia neste ano. Certo?

Erro, upa. E todavia algumas dúvidas inconsequentes estão persuadindo alguns cientistas de repassar estes dados novamente. E os novos cálculos estão lançando algumas suspeitas.

Um método potencial de destruição seria que o LHC criará pequeninos buracos negros que poderiam engolir tudo no seu caminho inclusive o planeta. Em 2002, Roberto Casadio da Universita di Bologna na Italia e alguns companheiros rafirmaram ao mundo de que isto não era possível porque os buracos negros decairiam antes de ter a oportunidade de causar qualquer dano.

Agora eles não estão tão seguros. A questão não é simplesmente como os mini buracos negros decaem mas se este decaimento ultrapassa determinado crescimento.

Casadio retrabalhou os dados e agora diz: "o crescimento dos buracos negros a um tamanho catastrófico nãoparece ser possível."

Não parece ser possível? Isto não é a inequívoca tranqüilidade que os físicos de partículas estão nos dando até agora

E mais, os novos cálculos lançam novas incertas previsões. No passado sempre se assumia que os buracos novos decairiam no piscar de um olho.

Não mais. Casadio e companhia dizem:: “os esperados tempos de decaimento são mais longos (e possivelmente + 1 seg) do que é tipicamente previstos por outros modelos"

Epa, vejamos isto novamente: estes mini buracos negros estarão perambulando por ai por segundos, talvez minutos?,

Isto não soa bem. Alguém no CERN trate de clarificar?

Ref: arxiv.org/abs/0901.2948: On the Possibility of Catastrophic Black Hole Growth in the Warped Brane-World Scenario at the LHC

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Universos Paralelos


Desde o advento da Mecânica Quântica que nosso entendimento sobre a realidade que nos cerca vem mudando. Não é por acaso que os místicos abraçaram a mecânica quântica e até se aventuram em cursos expeditos sobre o tema.

Hoje a ciência fala sobra a possibilidade de multiuniversos e universos paralelos sem acanhamento, embora Rchard Feynmann um dos pioneiros tenha dito que ninguém pode afirmar com segurança que entende a mecânica quântica.

A teoria quântica é baseada na idéia de que existe uma possibilidade para todo e qualquer evento, não importando quão bizarro ou idiota seja este evento. Assim, não é sem sentido perguntarmos sobre a possibilidade de alguém subtamente se dissolver e se rematerializar do outro lado de uma parede de concreto. De acordo com a mecânica quântica existe uma possibilidade pequena, mas calculável de que isto possa acontecer. É claro que a possibilidade é tão pequena que teríamos que esperar a idade do universo para ver isto acontecer. Na verdade, os eletrons fazem isto o tempo todo dentro de nossos PCs e a civilização moderna ruiria se isto não fosse possível.

Com o advento da Teoria-M (M de membranas ou de mãe de todas as teorias), uma evolução da teoria das cordas, desenvolvida em 11 dimensões, os universos paralelos se apresentam como uma realidade matemática para explicar o comportamento das forças da natureza, especialmente, a força gravitacional.

Hoje ganham importância junto aos físicos os multi-mundos e a teoria da decoerência que surgiu para explicar a questão da influência do observador nos fenômenos quânticos

terça-feira, novembro 18, 2008

Satiagraha e Consciência Nacional


Os desdobramentos da operação Satiagraha da Polícia Federal estão cada vez mais expondo as carnes podres da república e espero que sirvam para orientar um novo horizonte de moralidade e ética.

Não consigo encarar o estilo da defesa do Sr. Daniel Dantas, sem vislumbrar a personificação do antiético e da representação do estilo "lei de Gerson" que prolifera neste país.

No Brasil, advogados mentem junto com seus cliente ao invés, de dentro da lei, procurar acordos para minimizar as penas de seus clientes nitidamente criminosos.

As filigranas e as chicanas legais permitem que estes bandidos circulem livres ostentanto escárnio em seus sorrisos como a sugerir que estão acima da lei.

O dia que um banqueiro como estes for para a cadeia sem mais recursos e sem ridículos benefícios de progressão de pena eu começarei a acreditar na justiça deste país.

segunda-feira, outubro 06, 2008

O Perigo Passou!!


Quando as urnas eletrônicas foram desligadas às 17:00h do dia 05/10/2008 também foi desativada a caixa de Pandorra que ameaçava levar a administração da cidade do Rio de Janeiro à idade das trevas.

Esperamos que esta derrota contundente que retira do 2º turno, pela terceira vez, o candidato da IURD enterre definitivamente os projetos políticos da Igreja Universal.

Nada mais patético do que ver as imagens do candidato saindo da votação com a Bíblia nas mãos. O que esperava ele, que os anjos do senhor viéssem em seu auxílio e derrotassem os adversários?

Como dissemos no artigo anterior, política partidária e eleições não são objetos da MPHP, mas isto é mais do que eleição, é a sobrevivência da sociedade carioca como uma sociedade livre e pluralista que respeite os direitos individuais e as diferenças.

Já afastamos um perigo, o do casal Garotinho, embora algumas sequelas de suas passagem ainda permaneçam entre nós como o ensino religioso nas escolas públicas e a possibilidade do ensino do criacionismo.

Precisamos continuar atentos.

domingo, setembro 14, 2008

O Perigo Que Vem do Rio


Um dos assuntos que evito tocar no Blog e na própria MPHP é política partidária, mas o que vou tratar nesta postagem é mais do que isto, é a própria sobrevivência da nossa sociedade como uma sociedade livre na qual as idéias são debatidas democraticamente e sem temas proibidos.

A possibilidade de termos um prefeito que antes de mais nada é um escudeiro das idéias da Igreja Universal (IURD) é o maior perigo político já enfrentado por esta cidade e mesmo este país.

Imaginem sentado no palácio da cidade, se preparando para vôos mais altos, uma pessoa com as idéias sectárias deste candidato que sequer preciso citar o nome. A começar pelo preenchimento dos cargos municipais pela horda de bispos, pastores, obreiros e fiéis incultos desta seita que promove cultos bizarros tais como seções de descarrego e outros do tipo.

Em pouco tempo os ataques a segmentos da população que têm seu comportamento condenado pela Bíblia seria instalado como rastilho de pólvora para iniciativas mais restritivas nos costumes sob a alegação de não serem de Deus.

Com esta base no Rio bem aproveitada e com os recursos de que dispõem, alimentado pela horda de fanáticos que os seguem, teríamos este virus se preparando para tomar todo o país chegando a Brasília apoiados pelo mais simplório dos vice-presidentes que já tivemos. E não podemos deixar de reconhecer que domínio da ciência do marketing eles possuem.

Lembrando ainda que a Constituição nos define como um estado laico e este candidato é, literalmente, o lobo na pele de um cordeiro.

Venho alertando contra esta seita há muitos anos e a estratégia da IURD é um dos artigos mais acessados da MPHP.

Cuidado eleitor do Rio de Janeiro!

sábado, setembro 13, 2008

Resta-nos Apenas o Samba


Costuma-se dizer que no Brasil a justiça só funciona para os ricos e eu diria que a assertiva está imprecisa, pois no Brasil, nem quem tem dinheiro ou, pelo menos, pode arcar com os custos de uma ação judicial, dispõe da justiça. O mais correto é dizer que no Brasil, os ricos são impunes.

Recentemente, fui, seriamente, lesado por uma administradora de cartões de crédito e propus uma ação de reparação de danos combinada com o impedimento antecipado de qualquer registro do meu nome em serviços de proteção ao crédito.

Logrei imediato exito no impedimento do lançamento do meu nome nos "Serasas" da vida, pois dependeu apenas do juiz e da expedição de alguns ofícios, mas o prosseguimento da ação está, seriamente, prejudicado pelos entraves da justiça brasileira.

Como moro no Rio e a empresa está sediada em São Paulo é necessário para que o réu seja citado, em tempos de informática e emails, um procedimento anacrônico denominado carta precatória.

O escritório de advocacia, que acompanha em São Paulo os processos do escritório que contratei no Rio de Janeiro, informa que cartas precatórias na Justiça paulista estão levando 6 meses para serem cumpridas.

A minha primeira audiência no processo, que está marcada pelo juíz na justiça carioca para este mês, terá que ser adiada e pelo visto por pelo menos mais 7 meses.

Eu pergunto: Dá para aceitar uma coisa dessas?

Somos reféns de empresas gananciosas que, conhecedoras desta impunidade, jogam com isto.

E estamos às vésperas de mais uma eleição. Eu pergunto: Para quê? Vai mudar alguma coisa?

Dizem que somos o país do samba e do futebol, que grande consolo, mas acho que com o futebol do jeito que joga a seleção do Dunga, resta-nos apenas o samba....

terça-feira, setembro 09, 2008

Onde guardar o lixo nuclear?


Essa é a questão no Brasil. A Finlândia, cujo projeto de depósito virou referência mundial, mostra que não há solução simples


Marcela Buscato, de Olkiluoto, Finlândia para Época

A reação é microscópica: dentro dos dois reatores da central nuclear de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, bilhões de núcleos de átomos de urânio se dividem e geram 3% da eletricidade consumida no Brasil. Os resíduos produzidos em duas décadas de operação são de uma ordem bem maior. Quase 446 toneladas de combustível usado – e radioativo durante milhares de anos. Até hoje, esse material não tinha despertado a atenção dos brasileiros. Mas, com a pretensão do governo de retomar seu programa nuclear, o problema apareceu. Há planos para a construção de mais quatro a oito usinas no país. A retomada das obras de Angra 3 já é dada como certa e, até o fim do ano, um comitê de ministros deverá decidir quantas usinas mais serão construídas. Isso aumentará a produção de lixo nuclear.

O problema não é exclusivamente brasileiro. Nenhum país do mundo conta com um depósito definitivo em funcionamento. A solução encontrada até agora, também a usada no Brasil, é guardar esse material dentro das piscinas especiais nas centrais nucleares. É uma solução provisória, até que se encontre um meio de armazenar o combustível usado. Mas que lugar e que tecnologias são suficientemente seguros para garantir o isolamento de um material capaz de emitir radiação em níveis letais por milhares de anos?

O Brasil deparou com essa questão pela primeira vez nas últimas semanas, depois de 23 anos do início da operação de sua primeira usina nuclear. O Ibama, órgão do Ministério do Meio Ambiente encarregado do licenciamento ambiental, condicionou o início da operação de Angra 3, previsto para 2014, à aprovação de um projeto de depósito definitivo. A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que promove e fiscaliza a energia nuclear no Brasil, não concordou com a exigência. E quis torná-la mais branda. Comprometeu-se a apresentar até 2010 um modelo do que chamou de “depósito intermediário de longa duração”. Isso significa que o combustível radioativo poderá ficar guardado por 500 anos, em vez de milhares de anos. Segundo a CNEN, o combustível dos reatores, armazenado em estruturas metálicas com varetas contendo urânio, seria colocado em cápsulas de aço e guardado em um depósito escavado em uma rocha ou construído com paredes reforçadas de concreto.

A contenda entre o Ministério do Meio Ambiente e a CNEN expõe um ponto delicado para a expansão do uso da energia nuclear no mundo. A Agência Internacional de Energia Atômica aposta em um crescimento de mais de 20% na geração desse tipo de energia nos próximos 20 anos porque ela é apontada como uma das opções para frear o aquecimento global. Seu ciclo de produção quase não gera gás carbônico, causador do efeito estufa. Mas a questão dos resíduos ainda é um impedimento: além de despertar a rejeição da população, projetar e construir um depósito definitivo encarece os custos da empreitada nuclear. Uma das respostas mais promissoras está no subsolo gelado do extremo norte da Europa. A Finlândia – país de apenas 5,2 milhões de habitantes, conhecido pela agilidade de suas instituições e pelos baixos níveis de corrupção – recebe todos os anos visitantes de diversos países interessados em seu projeto de depósito.

A idéia é construir um sistema de túneis, a 500 metros de profundidade, onde as varetas com as pastilhas de urânio seriam enterradas em cápsulas de ferro fundido e cobre. O custo estimado de construção e operação, 3 bilhões de euros, seria embutido na tarifa de energia paga pelos consumidores. O local já foi escolhido: Olkiluoto, uma ilha na costa oeste do país, que parece ter vocação nuclear. É lá que estão duas das quatro usinas finlandesas, responsáveis por 25% da energia do país. Um terceiro reator está sendo construído na ilha e há um projeto para a instalação de outro. Por isso, a localização do futuro depósito é estratégica: facilita o transporte dos rejeitos radioativos e ajuda na aceitação da população local, habituada à vizinha nuclear, geradora de empregos desde o fim da década de 1970.


O depósito finlandês ainda está na fase de pesquisa. Só começará a funcionar em 2020 – se cumprir os requisitos ambientais


A Posiva, empresa responsável pelo futuro depósito, trabalha em Olkiluoto desde 2004, escavando túneis usados como uma espécie de laboratório subterrâneo, chamado Onkalo (buraco, em finlandês). No futuro, eles farão parte do depósito final, servindo como túneis de acesso e ventilação. Por enquanto, servem apenas como base para verificar se a região é segura para a construção do abrigo. Só em 2012, quando o governo finlandês tiver analisado os dados obtidos em Onkalo, vai decidir se dará a licença para a construção do depósito. Se não houver imprevistos, o depósito começará a funcionar em 2020.

Apesar de ter se tornado referência internacional, o projeto finlandês não é uma unanimidade. Ambientalistas questionam a segurança do modelo e acusam a indústria nuclear finlandesa de vender internacionalmente a idéia de que o depósito já está em construção, embora as obras sejam apenas parte dos estudos.

Isso seria uma estratégia de marketing para amenizar a preocupação popular com os rejeitos nucleares e incentivar a implantação de novas usinas. “A Finlândia está sendo usada como mascote para promover a energia nuclear globalmente”, afirma Lauri Myllyvirta, coordenador da campanha de energia do Greenpeace finlandês.

O modelo nuclear da Finlândia é considerado exemplar pela Agência Internacional de Energia. A nova usina está sendo construída pelas empresas distribuidoras de eletricidade, que recebem a energia a preço de custo. Por isso, podem repassá-la para os consumidores com tarifas mais baratas. A aprovação da população finlandesa a esse tipo de energia também é considerada referência. A indústria nuclear no país faz pesquisas desde 1983 para medir a aceitação popular, que só cresceu de lá para cá. Segundo a última pesquisa, referente a 2007, 43% dos entrevistados apoiavam a construção do novo reator. Mas até a simpatia dos finlandeses à energia nuclear é abalada quando o assunto é o destino do lixo. A mesma série de pesquisas mostra que desde a década de 1980 quase a metade dos entrevistados acha que não é seguro enterrar o combustível usado.

Antes de liberar a construção do depósito, o governo finlandês levará em conta as preocupações de segurança dos ambientalistas. Teme-se que a estrutura do depósito não resista aos milhares de anos necessários para que o lixo nuclear se torne inofensivo porque a geologia costuma mudar naturalmente em uma escala temporal tão longa. Na Finlândia, essa preocupação é agravada porque o gelo escava a superfície do solo e modifica o fluxo dos lençóis freáticos, que podem levar material radioativo para outras regiões. “O depósito fica a menos de 100 metros do mar. Se houver um vazamento, o combustível nuclear pode escapar para o oceano”, diz Myllyvirta, do Greenpeace.

A Posiva afirma que todas essas variáveis estão sendo analisadas. “Não podemos prever o que acontecerá com o ambiente em milhares de anos, nem ter certeza sobre como isso afetará as construções humanas”, diz Timo Seppälä, porta-voz da empresa. “Mas nossos estudos mostram que, mesmo que ocorram alguns vazamentos, não será em um nível nocivo ao meio ambiente.”


Desde a década de 1970, os EUA debatem a construção de um depósito. E ele não ficará pronto antes de 2017


A incerteza sobre a integridade dos depósitos durante milhares de anos explica por que ainda não há nenhuma construção desse tipo no mundo. No Japão, Toyo, a única cidade que se candidatou a abrigar um depósito, em troca de subsídios governamentais, voltou atrás em abril do ano passado. A Suécia, que tem um projeto parecido com o da Finlândia, só deverá escolher o local do depósito definitivo no ano que vem. A França estuda guardar o combustível radioativo em um depósito na cidade de Bure, mas a previsão é de que a construção comece depois de 2015.

O caso mais complicado é o americano. Desde a década de 1970, os Estados Unidos estudam um local para enterrar o lixo nuclear espalhado por 126 instalações, em 39 Estados. Já foram gastos US$ 9 bilhões em pesquisas e na construção de um túnel com 8 quilômetros de extensão e 300 metros de profundidade, na Montanha Yucca, no Estado de Nevada. Até agora, os planos do depósito não saíram do papel.

Algumas das centrais nucleares americanas estão esgotando a capacidade de suas piscinas para armazenar combustível. A usina de Indian Point 2, no Estado de Nova York, está transferindo o lixo altamente radioativo para pátios, onde é armazenado em contêineres de aço e concreto.



PROIBIDO MERGULHAR Piscina com o combustível radioativo usado em Angra 1. É uma solução provisória

O governo americano paga às usinas pelos gastos delas com a administração do lixo, que já deveria ter passado para o Estado. O prejuízo poderá chegar a US$ 35 bilhões. Por isso, está tentando acelerar a construção na Montanha Yucca. Em junho, a Secretaria de Energia submeteu o pedido de licença para a construção. A perspectiva mais otimista é que o depósito seja inaugurado em 2017.

O Brasil ainda está longe de ter um projeto como o dos EUA ou da Finlândia. Não há local definido para o depósito nem estimativa de custo. Os responsáveis pelo programa nuclear brasileiro ainda discutem o que é lixo nuclear. “O combustível usado não é lixo”, afirma o presidente da CNEN, Odair Dias Gonçalves. “Ele pode ser usado novamente porque conserva 40% de seu potencial energético.” É por isso que o projeto brasileiro prevê a construção de um abrigo de 500 anos. O objetivo é reciclar o combustível. É uma promessa que encontra resistência. No reprocessamento, é possível obter plutônio, usado na construção de armas nucleares. Outra desvantagem é o alto custo: por enquanto, reprocessar o urânio sai mais caro que retirá-lo da natureza. “O reprocessamento ainda não é viável”, diz Leonam dos Santos Guimarães, porta-voz da Eletronuclear, a empresa que administra as usinas de Angra. “Mas precisamos dar às próximas gerações o direito de usar essa fonte de energia.”

A aposta de Guimarães nas soluções futuras é partilhada por Anneli Nikula, porta-voz da TVO, empresa operadora das usinas finlandesas de Olkiluoto. “Estamos construindo um depósito tão seguro que não precisará ser monitorado depois de lacrado”, diz. “Mesmo assim, sempre penso que as novas gerações não serão menos inteligentes que nós. Elas encontrarão maneiras mais fáceis de controlar a radiação.” O dilema do lixo nuclear é que só no futuro distante ficará claro se deixamos um belo presente ou um grande fardo para as futuras gerações.


Viagem Final do Urânio

Leia também: Submarinos Nucleares: Descomissionamento
e Obama Fere de Morte a Indústria Nuclear

Erros no licenciamento de Angra 3


Origem - Gazeta Mercantil 9 de Setembro de 2008

A concessão da licença prévia para Angra 3 trouxe novamente ao debate público a questão dos rejeitos radioativos produzidos durante a operação de uma usina nuclear. Entre as 60 condicionantes incluídas na licença concedida pelo Ibama, uma se destaca, por ser precipitada. Trata-se da exigência de apresentação de uma proposta e do início da execução do projeto para disposição final dos rejeitos radioativos de alta atividade.

Por ser possível e ambientalmente mais correto o reaproveitamento desses rejeitos, é inadequado condicionar a licença prévia de Angra 3 à construção de um depósito definitivo para seu armazenamento.

Cabe legalmente à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) regular sobre essa matéria e também a responsabilidade pelo destino final dos rejeitos radioativos produzidos em território nacional. Por isso, a exigência não poderia ter sido endereçada ao empreendedor, no caso, a Eletronuclear.

Deve ser destacado que, durante vários anos após serem usados, os elementos combustíveis contendo os rejeitos radioativos devem ser mantidos em piscinas localizadas junto aos reatores, especialmente projetadas para esse fim e com um sistema de refrigeração dedicado para remover o calor residual antes de serem reprocessados ou armazenados definitivamente. Países que fazem uso maciço da energia nuclear, como Estados Unidos, França, Alemanha e Japão - que operam mais da metade dos 439 reatores em operação no mundo -, não têm em operação um depósito definitivo para os rejeitos radioativos de alta atividade.

Estes rejeitos são materiais que decaem ao longo do tempo, emitindo partículas e radiações nucleares até se tornarem estáveis e não oferecerem risco para os seres vivos. Os tempos de decaimento variam de dias até milhares de anos. Os materiais radioativos, se ingeridos ou inalados, causam diferentes danos aos seres vivos, dependendo das taxas de decaimento e do tempo de retenção no organismo. Por essa razão, devem ser isolados do meio ambiente de forma segura e pelo tempo necessário para que não ofereçam qualquer risco à saúde.

Caso a opção seja por seu armazenamento em depósitos permanentes, os rejeitos passam a ser rotulados de lixo radioativo, pelo simples fato de não serem reutilizados. Essa opção é uma conseqüência da política internacional de restrição ao reprocessamento dos rejeitos radioativos para limitar a proliferação de armas nucleares. Entre os materiais nucleares existentes nesses resíduos há urânio e plutônio, que podem ser usados para a fabricação de armas nucleares, mas que também podem servir para gerar mais eletricidade, além daquela já produzida originalmente nos reatores nucleares.

Atualmente, centros de pesquisa ao redor do mundo estão desenvolvendo um novo tipo de reator, que produz energia e incinera os rejeitos radioativos. O conceito é bem simples e utiliza aceleradores de partículas combinados com a fissão nuclear. O termo "incineração" significa o encurtamento do período de atividade dos rejeitos.

A deposição, sem qualquer tratamento, em um depósito definitivo, precisa durar milhares de anos para os resíduos alcançarem o nível natural de radioatividade de uma mina de urânio. Com o uso dos novos reatores incineradores, o tempo de armazenamento é reduzido para menos de 300 anos.

Por que, então, não aguardar novos avanços no setor nuclear para o tratamento dos rejeitos? Por que não usá-los para gerar mais energia elétrica? O desconhecimento da evolução dessas novas tecnologias não pode justificar decisões precipitadas no processo de licenciamento de Angra 3.

No setor elétrico, todas as fontes têm algum tipo de impacto para o meio ambiente. Nenhuma delas sozinha será capaz de atender às necessidades futuras de geração de eletricidade. A energia nuclear poderá dar uma contribuição importante para a diversidade da matriz energética do País e, por isso, seu uso não pode ser apresentado de forma maniqueísta. Criar falsos dilemas sobre sua utilização não nos levará a lugar algum. O que precisamos é estabelecer exigências que efetivamente conciliem a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento.

Por que não aguardar novos avanços para tratamentodos rejeitos?

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 3) AQUILINO SENRA MARTINEZ* - Professor titular do programa de Engenharia Nuclear do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) )



Leia também: Submarinos Nucleares: Descomissionamento