quarta-feira, julho 21, 2010

Pré Sal: Concerto para Vuvuzela e Harpa



A Copa já se foi, mas o irritante barulho das vuvuzelas ainda ecoa, renitente, em nossos ouvidos. A lembrança desse ruído enervante é comparável à agravante campanha do Governo Federal tentando convencer os cidadãos brasileiros de que explorar as jazidas de petróleo da camada dita Pré Sal é a saída mais direta para bancar o nosso desenvolvimento. Ele tenta nos convencer que explorar esse recurso é algo banal, depende somente de desenvolver tecnologias adequadas ou de adaptar outras já existentes. Mais que isso, o Governo tenta nos convencer que com os proventos advindos dessas jazidas, os brasileiros vão tirar o pé da lama e que todos migraremos, em bloco, para um andar superior chamado mundo desenvolvido. Em resumo, num primeiro momento, o Governo chama nossa atenção com as vuvuzelas, mas no sentido mais profundo e de maneira sutil, quer nos iludir tocando, em seguida, os sons harmoniosos de uma harpa. Acontece que essa harpa pode ter procedência duvidosa e vir recheada de ilusões e falsas promessas, totalmente destituídas de bases científicas. Meros cantos de sereias.

Explorar petróleo em profundidades dessa natureza é algo totalmente inédito, nunca tentado, nem aqui nem na China. Aliás, a China nem foi um bom exemplo, pois, sabe-se que o desenvolvimento a qualquer preço preconizado pelo governo chinês não deveria servir de paradigma para qualquer nação democrática. Sugere-se aqui que os brasileiros rejeitem os arpejos maviosos da ilusória harpa governamental e voltem a empunhar as maledetas vuvuzelas, comecem a se engajar numa campanha nacional para discutir, aprender, ensinar e divulgar os prós e os contra dessa exploração que talvez represente o último recurso natural de vulto da nação brasileira. Este assunto é grave demais para ser deixado nas mãos de um petit commité que tomará decisões de imenso alcance que, seguramente, atravessará várias gerações. É preciso ampliar o debate para muito além da mera distribuição dos royalties entre os estados participantes. Que ninguém se iluda, se algo der errado e desastres ecológicos acontecerem, não somente os estados diretamente envolvidos na exploração do recurso sofrerão, mas toda a nação brasileira. Tenho dúvidas que os possíveis benefícios advindos do Pré Sal atinjam a todos os brasileiros igualmente, mas os eventuais malefícios, estes, sim, serão prontamente socializados.

Longe de mim adotar uma postura contrária à exploração dessas jazidas. Não dá para ignorar que se trata de um recurso extraordinário de que a nação dispõe. O que me preocupa é que, devido ao alcance da atividade que estamos prestes a iniciar, a sociedade precisar ser esclarecida, precisa saber mais, para poder opinar, com conhecimento de causa, contra ou a favor. É urgente iniciar uma ampla discussão nacional sobre as vantagens e desvantagens da exploração das jazidas do Pré Sal e, mais especificamente, discutir sobre os perigos ambientais que tal exploração implica, quais as alternativas, quais as medidas a serem adotadas no caso de vazamentos e outros desastres. Os riscos são muitos, alertam os especialistas e as consequências de possíveis desastres são sistêmicas e persistirão por décadas. Na avaliação de vários cientistas, o Governo está brincando com fogo ao mergulhar de cabeça neste empreendimento de tamanha envergadura de maneira tão leviana. Sem aprofundar o debate com toda a sociedade.

Juízo, Brasil, juízo! O país não pode servir de campo experimental para plataformas políticas de partidos, legendas e coligações. O Brasil é maior que qualquer movimento partidário, de qualquer tonalidade. Temos que lembrar que os partidos chegam, ficam por algum tempo e depois se vão. Mas a Nação permanece. Lembrem-se das gerações de brasileirinhos que virão depois da nossa!


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