
Não importa o tempo convivido, especialmente, se iniciado no Colégio Naval, em Angra dos Reis, apelidado de "Esperança da Armada".
Talvez, ou com certeza, o fato de ingressarmos na vida naval pelo Colégio Naval, a maioria de nós, recém completando 15 anos de vida, no alvorecer de nossas esperanças futuras, com o coração repleto de entusiasmo e a mente povoada pelos sonhos, certamente, tem uma influência decisiva na marca que a Marinha deixará em nossas existências, aliado ao fato de que quase todos estão, pela primeira vez, se libertando das presenças paterna e materna e, então, nesse momento, passando a ser os controladores das próprias atitudes e de suas consequências.
Por outro lado, a natureza exuberante do local que propicia inúmeras aventuras pelas ilhas e praias da redondeza favorece a liga e a camaradagem que vão perdurar ao longo da vida, independente dos rumos que cada um venha a seguir, se carreira na Marinha ou na vida civil.
Nesses tempos de redes sociais, em que os contatos humanos se tornam cada vez mais virtuais, lembro-me de uma situação pitoresca que acontecia com uma certa frequência quando ocorria algum entrevero entre colegas e que dá uma ideia do que é cursar o Colégio Naval e porque voltamos lá para descerrar placas comemorativas dos 30, 40 e 50 anos de nossas passagens pelo estabelecimento. Alguns sequer completaram um ano no CN e comparecem a essas cerimônias, o que prova a força do cinza.
Desavenças momentâneas em jovens confinados, com os hormônios á flor da pele é a coisa mais natural do mundo, mas em uma organização militar isso é uma falta grave e quem quer que acabasse saindo na "porrada" estaria sujeito a sérias medidas punitivas que afetariam o conceito final e, mais importante, as licenças quinzenais.
Mas para tudo há um jeito. Existia e ainda existe até hoje, ao final da pista de atletismo, que pode ser vista na foto, um muro com a frase "Mens Sana in Corpore Sano". Hoje parece que a frase mudou para ostentar; Colégio Naval, Esperança da Armada", e era para lá que se dirigiam os contendores a fim de resolver suas diferenças.
Acontece, que a distância média até esse muro, que esconderia a contenda dos olhares dos oficiais, e os locais de convívio mais comuns, como o pátio interno, implicava em uma caminhada de pelo menos 500 a 1000 metros. Ora, não há entrevero que resista à racionalidade que aflorava durante o curso dessa distância e a "porrada" quase sempre não acontecia e as pazes eram firmadas antes ou na chegada ao Mens Sana.
São fatos como esse que nos impedem de jamais esquecer os anos vividos no Colégio Naval e que em grande monta ajudaram a moldar a nossa personalidade com a ajuda do fermento cinza correndo nas veias.